A história do fuxico só pode ser compreendida se voltarmos um pouco
ao tempo e visitarmos as curiosidades sobre a tecelagem e trabalhos
manuais no Brasil.
Os indígenas brasileiros que cultivavam algodão, fiavam para a
confecção de redes de dormir, mas ainda não produziam o tecido
propriamente dito. As fibras vegetais eram trabalhadas em forma de
trançado.
O algodão tornou-se uma das principais culturas no início da
colonização e a atividade de tecelagem manual se desenvolveu para a
formação de uma variada indústria doméstica de produção de fios e
tecidos. Um dos fatores que ajudaram no desenvolvimento da tecelagem
manual era o fato de que os nativos andavam nus e os padres jesuítas
tinham uma preocupação em vestir aqueles que estavam sendo catequizados.
Além disso, com o desinteresse de Portugal em colonizar o Brasil, os
habitantes que aqui se fixaram não tinham muitos meios de adquirir
produtos industrializados. Era necessário produzir para a própria
subsistência como futuramente também serviu para vestir a mão de obra
escrava trazida da África.
Basicamente em todas as propriedades havia um tear para a produção
manual de tecidos de algodão, que eram utilizados na confecção de peças
de vestuário, roupas de cama, mesa e banho entre outros. Os tecidos de
algodão eram grossos, sem o refinamento dos tecidos nobres conhecidos na
época e eram destinados às classes sociais mais pobres, além dos
escravos e indígenas. Houve um crescimento estrondoso nas “indústrias
caseiras”, fazendo com que o produto têxtil nacional tivesse uma melhora
em sua qualidade. A abundância dos pigmentos naturais também
proporcionou diversidade de cores.
Motivada pela crise mercantilista da época, a obrigatoriedade de
Portugal em importar tecidos da Inglaterra, a necessidade de mão de obra
nas lavouras e nas minas de ouro e, ainda, o crescimento da indústria
têxtil brasileira, Dona Maria I, rainha de Portugal, proibiu em 1875 a
atividade da tecelagem manual no Brasil. Nesta época, as indústrias
caseiras fabricavam não só o tecido de algodão para vestimentas de
indígenas, negros e caboclos, mas também podiam ser encontrados o
fustão, chitas e alguns brocados.
A tecelagem manual passou a ser uma atividade proibida. Entretanto,
com o avanço dos pioneiros para a região central do país, esta atividade
persistiu em alguns lugares, sendo hoje o Centro-Oeste e o Triângulo
Mineiro uma das poucas regiões do Brasil que ainda mantêm esta tradição.
Em 1808 a família real portuguesa vem para o Brasil, fugindo das
tropas de Napoleão. O contato com a corte trouxe mudanças nos costumes
locais e consequentemente no desenvolvimento de atividades manuais, como
bordados e rendas, que davam glamour ao artesanato local.
O brasileiro nunca se moldou aos hábitos culturais e artísticos dos
colonizadores. A miscigenação cultural deu origem a uma de suas maiores
características: a criatividade.
As mulheres brasileiras se inspiravam nos trabalhos manuais trazidos
da Europa, mas davam um toque “tropical”, com a utilização de
matérias-primas locais, principalmente os fios de algodão e
acrescentando cores… muitas cores.
O Brasil não tem muita tradição com trabalhos manuais em tecidos, mas a atividade com fios e linhas sempre existiu.
Com uma diversidade de matéria-prima para o desenvolvimento de um
artesanato extremamente variado, com inspirações indígenas, portuguesas e
africanas, o artesanato brasileiro ainda foi enriquecido com as
culturas dos imigrantes europeus e asiáticos, consequentemente essa
mistura está presente em qualquer manifestação artística e cultural do
país.
O fuxico, de idade secular, tem a sua criação atribuída (cogitada)
aos escravos africanos. Entretanto, eles se popularizaram dentro do
universo do patchwork no início do século XX. Um pequeno círculo com as
extremidades alinhavadas e franzidas inspiram a criação de pequenos
enfeites e adereços, até a composição de peças maiores como colchas.
O fuxico é um artesanato que está presente em todas as regiões
brasileiras. O termo “fuxico” em português é sinônimo de “fofoca”
(cochicho) e, segundo o folclore local, ele recebeu este nome uma vez
que as mulheres se reuniam para costurar e cochichar sobre a vida
alheia.
O fuxico esteve associado à classe social de baixa renda e/ou
comunidades rurais. De uma década para cá, com o surgimento da
customização e a introdução de novas técnicas artesanais na moda e na
decoração é que ele começou a ser mais valorizado.
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