Caminhos de Leandro
Apparicio Silva Rillo
Pelo caminho por onde ajudaste a levar tantos
Te levamos.
Era domingo, havia sol e pássaros,
E automóveis correndo e casas estáticas,
E edifícios subindo e rádios gritando futebol.
E cegos, e surdos, e mudos, e homens e mulheres,
Crianças e cachorros,
A vida, sua roupagem de ouros e de lodos
E a morte em ti.
Na tua boina basca inútil
Nos teus braços e pernas, no teu ventre
Na casa antiga que deixavas
Para não voltar de tardezinha
Para o mate amargo.
No quarto de janelões abertos para a praça,
No patio onde cantavam grilos nas folhagens verdes
A morte e a surpresa de vê-la bater na tua carne magra
Como um punho de ossos na madeira da porta
Muito havia morrido de ti, antes de ti
A prateleira das ferragens
Os luzidios balcões das
mercancias semaneiras
O borrador manuscrito a letra limpa
O deve, o haver,
O som da registradora, a roda do trem ferro
Trazendo o viajante.
O teu tempo Leandro, morrera antes de ti.
Tua cidade, morrera em sua ruas rubras
E a sesta domingueira, a cadeira de balanço na calçada,
O casarão de esquina, o telefone a manivela
O templo castigado, onde casaste,
As procissões do santo padroeiro,
Os curas que rezavam em latim
E usavam batinas.
Morrera o berro do boi, o tranco do cavalo
A roda rija do carro do pipeiro,
O seu refrão cantado de água limpa,
A velha com seu cesto de pastéis
O guri das quitandas a cem réis.
Nos lábios de silencio dos que iam
O indecifrado mistério te chamava
A cada dia sempre mais alto te chamava.
Pelo caminho por onde ajudaste a levar tantos
Te levamos.
Pelo caminho, por onde um dia iremos.
No chão de úmida argila
Onde um dia os plantaste, te plantamos.
Um bronzo ventre onde nos plantaremos.
Era domingo, Leandro,
Era o sétimo dia Leandro
O de descanso.
Teu dia de descanso.
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