sábado, 29 de março de 2014

De Heróis e Chacais

DE HERÓIS E CHACAIS
AUTOR: Ari Pinheiro

Não,
Não são minhas estas palavras,
Que quando vim ao mundo
Nada trouxe de meu...

Aliás, minto!

Renasceu junto comigo
Esta ancestral
Herança genética
De encilhar cavalos,
Romper divisas,
E topar os ventos de frente!

Não,
Não é minha
A linha de raciocínio
Que norteia este discurso...
Que no veio fluídico
De minha verve
Há muito de Platões, Sócrates
Nerudas, Larraldes, Cafrunes
Apparícios, Jaimes e Retamozzos.
Raízes e troncos antigos
Que espalharam ramagens
Onde minha mente andarilha
Bebeu gotas de sapiência
Nos serenos madrugueiros
Dos séculos...

A pena que desliza é minha!
Mas o que dela brota
É uma colcha de retalhos
Costurada com a agulha dos anos,
Cerzida com a linha do horizonte.
Esta que não conhece divisas
E nem se prende
Por maneias temporais...

Nem estes arrancos de bravura
Que de quando em vez
Assomam minha alma,
Sequer eles são meus!
Que sou o produto da forja
Dos dias
Acordando da noite dos tempos,
Onde já dormem Cids, Alexandres,
San Martins, Estigarríbias,
Netos, Bentos e Onofres.
Senhores da guerra,
Mestres das batalhas,
Semideuses de a cavalo,
Num tempo em que haviam asas
De ponchos ondulantes
Nas garoas desses dias.
Nos mitológicos embates
Dos centauros campesinos...

São eles que voltam
No colo dos ventos
Bradando cargas de lança
Pela voz dos taquarais.
São eles que clamam
Nas cantigas dos arroios,
No crepitar dos fogões,
No agouro das corujas,
No encrespar das coxilhas...
Clamando por igualdade
Nos dias de hoje
Onde o rio do progresso
Se fez caudaloso,
Desenhando cachoeiras
Com sangue de irmãos...
Onde bebem os chacais
Carniceiros de agora
Que conquistam o povo
Com mentira e bravata.
Fazendo do pago
Um feudo sem glória
Com guerras de mentiras,
E quartéis de ilusões,
Para os modernos coronéis
De terno e gravata...
Não,
Não são minhas estas palavras...
São gritos roucos
Oriúndos de um tempo
De heróis de verdade
Querendo plasmar no presente
Os valores de outrora.
Onde o fio de bigode
Valia fortunas
E a justiça da espada
Era quase uma crença...
Onde pátria e família
Eram ninho seguro
E honra e respeito
Eram bens de nascença...

Não, não são minhas
Estas palavras...
Porque se acaso fossem,
Os chacais deste tempo
Tentariam calar!!!

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