terça-feira, 15 de abril de 2014

Imigração no Rio Grande do Sul

A CONTRIBUIÇÃO DOS COLONIZADORES NA CULTURA GAÚCHA

A formação do Rio Grande do Sul é um dos capítulos mais recentes da história brasileira. Basta dizer que a integração definitiva de seu território só se completou no início do século passado (1801), ao incorporarmos as Missões Jesuíticas da margem esquerda do Rio Uruguai.


OS ESPANHÓIS JESUÍTAS E EXÉRCITO

Justamente por Ter sido o único ponto do território nacional em que a ocupação portuguesa se chocou, de imediato, com a espanhola, a fisionomia do Rio Grande foi sempre a de uma fronteira em armas. Esta circunstância conformou um tipo de cultura que já aí começa a diferenciar-se da do resto do País.

No correr do século XVII, quando os missionários espanhóis da Companhia de Jesus ali plantaram os seus aldeamentos, mais tarde reduzidos aos SIETE PUEBLOS, convergiam para a região que hoje constitui o território estadual duas forças rivais: a expansão espanhola, representada pelo Jesuíta a serviço dessa nacionalidade, e a portuguesa, encarnada no Bandeirante.

No litoral atlântico, a vila catarinense de Laguna; no estuário platino, a Colônia de Sacramento; e, terra adentro, a fortaleza do RIO GRANDE DE SÃO PEDRO, embora distanciadas umas das outras, vão-se depois articular num sistema misto de defesa e ataque. Mas, nas coxilhas abertas à atividade pastoril, a fronteira das duas culturas ibéricas continuaria indemarcada, oscilando conforme a própria mobilidade do pioneiro. Fixada nas areias litorâneas da entrada da Barra, a civilização luso-brasileira teve de enfrentar, inicialmente, dois opositores: a Oeste, o silvícola dos aldeamentos, adestrado na arte da guerra; ao Sul e a Sudeste, as tropas mandadas diretamente de Buenos Aires. Enquanto nos vales do Jacuí e do Uruguai, ou seja, nas duas grandes bacias fluviais por onde se deu a penetração do branco, os sertanistas de São Paulo e o índio missioneiro se engalfinhavam em luta sangrenta. Três momentos assinalam e qualificam esse conflito: a destruição das aldeias missioneira, - 1630 – 1640; a Guerra Guaranítica, conseqüente ao Tratado de Madrid – 1750; a conquista dos Sete Povos – 1801, por um escasso grupo de patriotas capitaneados por José Borges do Canto e Manuel dos Santos Pedroso.

Exércitos castelhanos, antes e depois do período colonial, invadiram o território rio-grandense em várias ocasiões. A ocupação da Vila de Rio Grande , em abril de 1763, e a incursão de Salcedo, a caminho de Rio Pardo, constituíram grave ameaça à estabilidade da cultura luso-brasileira. Só em 1776, o invasor abandonou todos os pontos que ocupara. Nos combates por mar e em terra, se defrontaram tropas disciplinadas à européia, conforme o regimento do Conde de Lippe, mas foi uma admirável geração de fronteiros que nos choques verificados em campo aberto, por toda a parte, criou a legenda de bravura imortalizada por Rafael Pinto Bandeira.

CHEGADA DOS AÇORIANOS PARA COLONIZAR O RIO GRANDE DO SUL

A posse efetiva da terra, com a fundação do primeiro núcleo de população luso-brasileira, deu-se tardiamente, muito depois de adquirir o Brasil a fisionomia que o define. Isso vem explicar o vínculo sentimental, tão profundamente brasileiro, tão brasileiro do Rio Grande do Sul.

Quando os marinheiros e soldados da expedição Silva Pais desembarcaram na praia arenosa e inóspita de Rio Grande, o caldeamento intenso e as vicissitudes históricas já haviam formado uma cultura, ligada afetivamente à portuguesa, mas dela bastante distanciada nos aspectos materiais peculiares ao novo meio americano. Na sua expansão para o Sul, menos para escravizar índios das reduções espanholas do que para responder a interesses de uma política territorial bem definida, como reconhece a crítica moderna, - na sua expansão, o Bandeirante é quem estimula a cautelosa política do Conselho Ultramarino, receoso sempre de provocar atritos com a coroa espanhola. Se a Colônia de Sacramento, construída bem ao desafio, ali diante de Buenos Aires –1680, representou enorme vantagem para o alargamento da fronteira lusa, a verdade é que foi pelo interior, percorrendo inclusive os ásperos caminhos da Serra do Mar, na irrefreável descida do luso-brasileiro em demanda da Campanha rio- grandense, já na fase da preia ao gado alçado, que se verificou o segundo atrito , de motivação essencialmente econômica, entre os nossos sertanistas – Piratininga, São Vicente e Laguna e os castelhanos cisplatinos.

Do meio agreste e semi- bárbaro da Campanha, a que ambas as correntes antagônicas se dirigiam em busca do gado, surgiu de imediato o GAÚCHO, mescla de raças e costumes obscuramente realizada, ao deus-dará do instinto e da aventura. A História não saberia dosar-lhe os componentes. O que se pode afirmar de positivo a seu respeito é que foi mais uma expressão econômica do que um tipo étnico. Mas os acontecimentos históricos, notadamente as lutas de fronteira, começaram desde a segunda metade do século XVIII a extremar o gaúcho platino do gaúcho brasileiro, este, mais afeiçoado do que aquele, ao espírito gregário que confere ao município tamanha importância na estrutura do nosso desenvolvimento social. Mas ainda assim, o estilo de vida continuou a ser modelado segundo as técnicas de trabalho e as demais peculiaridades do pastoreio, atividade geradora da primeira célula que levou o GAÚCHO à vida sedentária: A ESTÂNCIA.

A formação social do povo do Rio Grande do Sul assenta-se sobre o primitivo núcleo de produção rural a que se chamou Estância. É um complexo familiar e comunal aplicado à criação, que se constituiu em linha mestra do desenvolvimento econômico dessa região. A palavra Estância está ligada , portanto, a um tipo de produção rural que corresponde a um nível de desenvolvimento econômico em certo estágio técnico, como núcleo de produção, está indissoluvelmente ligada a determinados meios de produção e às suas conseqüentes relações.

Se vemos a estância como um modo de vida, precisamos diferenciá-la da fazenda, compreendendo aquela como decorrente de uma comunidade formada em torno de uma família – a do estancieiro; esta como a simples exploração da propriedade rural, sem vínculos comunais ou familiares.
Nessa fase, desloca-se o centro de gravidade da economia brasileira (com o ouro) para o Sul, ficando o Nordeste e a Bahia adstritos à exploração da cana-de-açúcar.

A breve trecho, sobre a infra-estrutura pastoril das estâncias formadas pelos primeiros povoadores, articulou-se a defesa, tendo como pontos principais os fortes localizados abaixo da Lagoa Mirim, as guardas de São José do Norte e do Viamão e, mais tarde, a tranqueira de Rio Pardo, no Jacuí. Assegurava-se deste modo a posse da margem esquerda da Lagoa dos Patos e da faixa do Albardão, entre a Mirim e o mar. Além do que, junto ao Porto de Viamão, haviam sido fixados os primeiros casais de número, trazidos dos AÇORES, com os quais se inaugurou a colonização sistemática. Se a estância, como vimos, foi a célula inicial e o gado chimarrão a primeira lavra, daí por diante, paralelamente àquela atividade, o ilhéu inicia a cultura da terra, e os trigais abrem caminho à ordem urbana, aos lineamentos da vida civil no burgo, à sombra da Igreja. É toda uma civilização que desponta, rudemente afeiçoada por milicianos, campeiros e agricultores, na pausa das arreadas e das invasões militares. Qualquer que fosse a sua atividade lucrativa, ninguém se furtava ao chamamento às armas; o instinto de sobrevivência, a defesa do lar, a ligação afetiva a um grupo social e a vivência, a defesa do lar, a ligação afetiva a um grupo social e a atração da língua materna, - impulsos instintivos – mais do que quaisquer outras considerações, uniam os homens sob a mesma bandeira.

É importante ressaltar-se o colorido, a variedade do elemento humano pioneiro: soldados de profissão, milicianos recrutados nas capitanias do Centro e do Norte, tropeiros e povoadores de São Paulo e da Laguna, tímidos casais de açoritas, e ainda aventureiros de várias procedências. Predominavam, porém, numericamente, os oriundos daquelas capitanias, portadores de uma cultura já vitoriosa no meio tropical, como a resultante luso –brasileira de um processo acidentado de miscigenação. O novo esforço colonizador do luso, na raia meridional, já podia, em suma, aproveitar a experiência bem sucedida que fizera em outras partes do Brasil. E são os frutos dessa experiência , o que empresta à nova conquista, no que diz respeito aos dirigentes que a iniciaram e consolidaram, caráter sob muitos aspectos revolucionário . A mentalidade que para o Continente de São Pedro se transporta, com os homens de mando, dá sentido prático às medidas administrativas e assegura igualmente a eficácia de um dispositivo militar planeado por grandes técnicos portugueses em fortificações e estratégia.

Em alguns poucos anos, passa pelo Rio Grande, deixando sulco profundo na mentalidade da população que se formava, inclusive na adoção de práticas de governo mais evoluídas, um grupo de homens de porte de José da Silva Pais, André Ribeiro Coutinho, Gomes Freire de Andrade, José Marcelino de Figueiredo, José Saldanha entre outros. Figuras que contam nas letras militares, na administração e na política ultramarina do tempo. Alguns são expoentes , em seu grupo, das idéias iluministas que funda a paz social no progresso material, no império da razão, no desenvolvimento do comércio, na igualdade entre os homens. E essas idéias se difundem, criando prontamente raízes. A influência que exerceram foi na prática, mais profunda na sociedade de tipo aluvional, sem compromisso com o passado. Isso explica, em boa parte, alguns traços da psicologia coletiva, podendo-se mesmo dizer que o rio-grandense, ao surgir à luz da história, já veio impregnado de modernidade. Certas idéias matrizes da Revolução Francesa, presentes na formação espiritual de algumas das figuras citadas, tiveram na geração que deu relevo a um Rio Grande até ali virtualmente português, o papel de catalizador de idéias nova. Assim, quer no concernente à organização da sua vida comunal, quer como defensor da fronteira sulina, o rio –grandense toma consciência, muito cedo, da realidade social. Um corajoso espírito republicano, caldeado na região e respondendo melhor às exigências da vida local, cimentado na fraternidade do pastoreio e da caserna, explica o processo de democratização vivido desde o começo.

OS ALEMÃES NO RIO GRANDE DO SUL

Iniciada por volta de 1824, a colonização alemã representou fator essencial no trabalho de recuperação das energias consumidas na voragem da guerra interna rio-grandense. Distribuindo-se pelo vale do Rio dos Sinos e galgando lentamente a Encosta da Serra, os agricultores daquela origem asseguram o aproveitamento regular e intensivo de parte da zona florestal, levando-a a produzir os gêneros que contribuiriam para diversificar, nas suas nascentes, a economia regional, que condições especialissimas pareciam Ter condenado a girar por inteiro em torno da pecuária e do latifúndio. Nos labores do campo ou da pequena indústria caseira, o imigrante se impõe um rítmo ordenado. A família com suas necessidades mínimas satisfeitas, formava nas “linhas” ou “picadas” coloniais uma unidade de trabalho garantidora da estabilidade grupal. E graças à policultura, exercida sem a ingerência do escravo ou do trabalhador assalariado, o colono se protegeu melhor das flutuações de preço no mercado consumidor. Em boa hora, estabeleceu ainda com a pecuária extensiva e latifundiária, detentora da influência política, um regime de trocas que foi útil a ambas as partes. Talvez por isso, por se completarem tão harmoniosamente, os dois sistemas coexistiram sem atritos, no quadro da vida provincial, permanecendo mesmo quase inalteráveis até o limiar do século XX.

ITALIANOS CHEGAM AO CAMPO DOS BUGRES

O mesmo aconteceu com os italianos entrados a partir de 1875, quando já haviam cessado por completo as guerras de fronteira, cinco anos depois de finda a Guerra do Paraguai, na qual o Brasil, um dos membros da Tríplice Aliança, arcara com a maior parcela de sacrifício de homens e bens, cabendo igualmente ao Rio Grande, pesado tributo.

Alemães e italianos integram-se no processo econômico. O luso-brasileiro organizara a administração pública, dera um espírito à ordem institucional; criara a indústria do charque; defendera, ampliara e demarcara a fronteira. O alemão consolida a agricultura em terras até então desaproveitadas e lança as bases da indústria do couro e da pequena metalurgia. O italiano trás a vinha e restaura a lavoura tritícola que surgira com os primeiros casais açorianos e seus descendentes.

É curioso notar como esses grupos, portadores de culturas originais, se enquadraram na ordem comunitária que os havia precedido. Houve todavia alguns atritos, especialmente quando se tratou de implantar um tipo de educação compatível com o princípio da soberania brasileira, mas a cultura-padrão se tem servido vantajosamente dos valores novos trazidos do exterior, rejuvenesceu com eles, e, posta em competição, atuou com maior vivacidade e poder ofensivo. Bem se pode apreciar isto nas diversas manifestações folclórica, nas artes em geral e, de modo particular, no processo literário.

OS FORMADORES DE NOSSAS CARACTERÍSTICAS

O Luso açoriano é sem dúvida o formador de nossas características como povo. Na formação e organização das cidades de origem lusa, pode-se notar essa influência, no traçado das ruas, as quais obedecem sempre a mesma conformação, de meia légua em quadro – um quadrado de quinhentos palmos de lado, que era às vezes em terras públicas reservadas para a fixação da praça e em um dos lados se construirá a capela. É um núcleo da futura cidade.

Ao redor da praça e ao longo da rua principal estão as habitações mais ricas. Casas dos estancieiros. A frente alta e esculturada, com sacadas, e a porta principal proporcionada e com degraus, muitas vezes de mármore. O piso da casa, a cinqüenta centímetros do solo a mais de um metro, caracterizando o status social do proprietário. As casas mais antigas são revestidas de azulejos decorados artisticamente são assobradadas, caracterizando-se pelo ponto dado ao telhado e as saliências do beiral, apoiados nas cornijas moldadas em forma de telhas em camadas – ninhos de andorinhas, encontrando-se muitas nos cantos dos telhados e nos vértices a clássica pombinha açoriana, que ainda pode ser encontrada em algumas cidades lusas pouco renovadas – Triunfo, Piratini, Viamão, Jaguarão, Rio Pardo....., bem como os caixilhos das vidraças em janela ou em bandeirolas sobre as portas.

Sem dúvida alguma, a grande contribuição do luso – açoriano, está expressa pela língua, a qual com raras alterações, é o primeiro traço cultural da paisagem humana rio–grandense.

Esse traço luso cobre todo o território, embora nas áreas novas, com elevada percentagem de imigrantes, se observem variações mais pronunciadas.

Outro traço da cultura lusa nas cidades gaúchas é o respeito às instituições. A religião, com suas igrejas, capelas e irmandades, a Câmara, com sua Casa da Câmara, o pelourinho e a cadeia – todos com aqueles tons tipicamente lusos. Por influência lusa, conserva -se até nossos dias a tradição de festas em comemorações aos santos do ciclo junino, da festa do Divino, procissões, festa e culto a Nossa Senhora dos Navegantes, simpatias, rezas, benzeduras, crendices, usos e costumes arraigados em nossa cultura, além da franqueza no externar suas opiniões, no recato característico da mulher, o hábito de espiar atrás da porta, ainda muito usual no interior. O artesanato, o trabalho manual, as cantigas de trabalho, os versos, os cantos e a música, tudo passou para os dias atuais através de nossos ancestrais lusos.

As cidades lusas tiveram em sua formação, a presença de certos traços culturais típicos. Algumas se originaram de capelas, motivos econômicos originaram outras, especialmente as mais recentes, muitas se originaram de um acampamento militar. Esses elementos – o acampamento, a capela, a charqueada e, mais raramente, o aldeamento indígena, representam traços fortes da cultura luso rio-grandense, presentes no processo de urbanização. O fato militar, muito influenciou nos padrões culturais, valorizados na sociedade que se formava, teve importância na implantação e na expansão das cidades gaúchas. A escolha do sítio muitas vezes foi feita mor influência desse fator. Rio Grande é um porto, mas também é uma cidade fortifica, que se utilizou das condições geográficas.

Ao longo do rio Jacuí, foram surgindo as cidades sempre ao norte do rio e protegidas por ele e, algumas vezes, também por seus afluentes. Ao norte do rio está Jaguarão. Da mesma proteção se serviram São Borja, Bagé e outras. Encontram-se em várias de nossas cidades as ruínas do lendário quartel velho ou os retos de um forte histórico.

Uma das marcas de cutura luso-rio-grandense é o traçado das cidades em xadrez, uma regra em quase todas as cidades gaúchas, um legado português, como herança romana.

Assim foi traçada a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Estreito, Itaqui e assim, quase todas as cidades criadas até os primeiros anos do século XX. De um modo geral as cidades luso-rio-grandenses tem sua fisionomia marcada de alguns traços inconfundíveis, oriundos dos tipos sociais que se formavam e da cultura de que estes eram portadores.

Os proprietários de terra, durante os períodos de ocupação e da formação da sociedade rio grandense, são homens de alguma importância social e política, antigos ocupantes de postos militares, portadores da cultura lusa, constroem nas cidades as residências onde passam uma boa parte do ano, especialmente o inverno. As cidades adquirem um traço fisionômico inconfundível, densos de expressão cultural, aflorando nos tipos de homem, em suas casas e nas instituições sociais.



A COLONIZAÇÃO ALEMÃ

Os 38 imigrantes alemães chegados ao Rio Grande do Sul em 25 de julho de 1824, escolhidos pelo Presidente da Província em nome do Governo Imperial, ao chegarem a Porto Alegre, foram estabelecidos em terras concedidas na extinta Feitoria do Linho Cânhamo. Assim nasceu a colonização alemã em nosso Estado.

É preciso esclarecer logo o sentido desta palavra, que significa a exploração duma zona população de origem alemã, mas sempre sob a fiscalização direta ou indireta das autoridades brasileiras. Os imigrantes alemães e seus descendentes agrupados em volta de núcleos de povoamento homogêneo, praticando atividades diferente das dos outros sul-rio-grandenses, constituíram verdadeiras colônias estrangeiras no país onde residiam, isolados durante muito tempo pela língua, pela fidelidade às suas tradições, e pela religião. Criaram assim, as chamadas colônias, uma nova paisagem reveladora da sua origem e seu tipo de vida.

O Rio Grande do Sul, antes da chegada dos imigrantes já possui uma tradição cívica de marca – fronteira, uma sociedade firmemente constituída, uma economia pastoril dinâmica – a criação do gado percorria na Campanha o seu próprio ciclo até os princípios do século XX – o de agricultura começou a se desenvolver nas colônias, sendo que os colonos deslocaram paulatinamente o centro de gravidade demográfica, econômica e política do Rio Grande do Sul. Aos descendentes dos imigrantes alemães, deve o Estado, boa parte da sua atual originalidade em relação ao resto do país pelo fato de contar com eles, como também porque penetraram e assumiram responsabilidades na sua sociedade. Nem todos tem origem rural, mas urbana em parte, porque a agricultura sustentou um comércio sempre maior e a indústria apareceu nas cidades. Os descendentes de imigrantes, freqüentando escolas e faculdades, adquiriram cultura comum, constituindo uma parte dos quadros administrativos, ocupando muitas funções eletivas. São partes integrantes no panorama atual do Estado.

No princípio do século XIX o Rio Grande do Sul, ficava subdividido em duas zonas, uma, já real e outra ainda virtual. A primeira era a Campanha, ou melhor, a FRONTEIRA, com suas estâncias, tenazmente defendida de ataques, o que dava o caráter militar aos seus donos.

Mas em 1824, o Rio Grande do Sul, terra gaúcha, era apenas a zona do campo. Para não perder sua soberania se penetrasse na mata virgem, o gaúcho ficou afastado, sem procurar apoderar-se dela.

Os alemães radicados no sul do Brasil, no princípio do século XIX, não obedeceram a imperativos geográficos, mas responderam à vocação dirigida pelo Governo Imperial, único capaz de organizar e sustentar a introdução e o estabelecimento de imigrantes europeus não portugueses. Esta colonização foi primeiro realizada em terras públicas, planejada e fiscalizada geralmente pela administração. Assim, o povoamento, a exploração e a própria vida dessas colônias obedeceram a uma tutela, a um dirigismo surpreendente como uma antecipação, mas revelador do modernismo da visão do império. Talvez nenhuma outra província oferecesse condições tão favoráveis como o Rio Grande do Sul, onde a criação dispensara praticamente a escravidão e onde a introdução do trabalho livre ecoava numa opinião também mais adiantada.

O lote colonial representa a célula de povoamento e a unidade de exploração e a propriedade – tipo. Todos os lotes foram marcados geometricamente a partir da PICADA, de forma retangular. O habitat, se formou em fileira, paralelo à picada que se tornou a verdadeira unidade orgânica do povoamento e, desenvolve um tão grande papel econômico, social e cultural que dificilmente se diria onde ela acaba e começa a povoação que tem geralmente o mesmo nome. A povoação nasceu na proximidade de uma encruzilhada, dum vau, duma capela ou venda. A atividade mais intensiva ainda é no domingo, quando os colonos afluem, à cavalo, para assistir à missa ou culto, ou ao ofício de fazer compras.

A casa do colono imigrante alemão é de madeira, representando um dos elementos mais característico e entretanto, sua evolução bastaria talvez para reconstituir a história dos homens, da família, dos grupos que as edificaram. São sempre térreas e tem, geralmente, um telhado assimétrico, como a maioria das casas construídas no século XIX, nas antidas colônias que provavelmente inspiraram o padrão. Nestas, o tipo mais freqüente é o ENXAIMEL, com paredes de taipa ou de tijolos, com telhado de taboinhas, telhas – às vezes francesas ou de zinco. As primeiras casas eram retangulares, com telhado simétrico, com porta e fachada numa das paredes maiores.

Nem todas as oficinas artesanais se tornaram fábricas e nem toda a indústria teuto-rio-grandense – que foi a primeira, nasceu nas colônias. O artesanato, sim. Mais exatamente, sempre limitado pelo arcaísmo das técnicas e pela falta de capitais. Ele se desenvolveu somente para satisfazer exigências elementares (cerâmica, carpintaria, ferraria, couro) e sobrevive apenas na execução de algumas tarefas complementares oferecidas por alguns ramos industriais, à sombra dos quais não pode esperar mais do que vegetar. Existe portanto, um hiato entre o artesanato e a indústria.

Com exceção de uma parte do couro, as grandes fábricas foram fundadas raramente por técnicos imigrados da Alemanha e possuidores de parcos recursos, geralmente por comerciantes teuto rio-grandenses que capitalizaram os lucros do negócio e mandavam vir da Alemanha máquinas e especialistas para suas novas empresas.

Foi o governo provincial quem organizou a imigração, lhe deu o primeiro estatuto, estimulou o recrutamento e orientou os imigrantes nas colônias fundadas no sopé da Serra entre 1848 e 1874. Apesar de bem sucedida, a colonização provincial foi abandonada, em parte por falta de entusiasmo dos políticos gaúchos com os alemães, em parte por causa de inconstâncias do governo imperial, que criou alguns grupos esparsos com os imigrantes italianos, principalmente.



A COLONIZAÇÃO ITALIANA

Declinado o ímpeto da imigração alemã, o governo da Província do Rio Grande do Sul, tomou a iniciativa de completar o povoamento da parte não explorada do Planalto por meio de imigrantes europeus de outra procedência: a região da Europa a que mais facilmente se poderia recorrer era a ITÁLIA, recém unificada, politicamente, mas em precárias condições econômicas para integrar sua massa populacional.

Para a fixação da imigração italiana a Província do Rio Grande destinou uma área de 32 léguas quadradas que lhe foram cedidas pelo governo imperial para aquele fim. Em 1870, foram criadas ali, as Colônias Dona Isabel, Conde D’Eu, Duque de Caxias, que se fundaram em 1874, seguidas pouco mais tarde pelas Colônias Alfredo Chaves, Prata, Antônio Prado, Guaporé e Chimarrão no Planalto. Os lotes eram vendidos à vista, depois, segundo um plano de pagamentos a longo prazo. Em ambos os casos, os colonos recebiam assistência técnica e médica a cargo de postos de Serviço de Imigração e Colonização, além de ferramentas, sementes e hospedagem com alimentação até que construíssem suas moradias.

Os colonos começaram a chegar em 1875, em navios italianos e antes de desembarcarem em Porto Alegre, faziam quarentena no Rio de Janeiro. Da capital da Província eram conduzidos até a vila de São Sebastião do Cai, de onde partiam a pé, em lombo de burro e em carretas, pelas estradas de tropas e pelas veredas das florestas, para as sedes coloniais, em grupos de famílias que atingiam a média de seiscentas e mais pessoas por mês, para cada núcleo. O folclore da região conserva a memória da grande aventura que foi a fixação do colono na área.

Essa população de imigrantes, distribui-se por algumas cidades de tamanho médio, sedes atuais de municípios, que haviam sido núcleos coloniais e que a partir de 1880 começaram a Emancipar-se, como distritos ou municípios, tias como Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, Veranópolis, uma parte localiza-se em vilas e povoados ao longo das estradas vicinais ou nos cruzamentos destas e das estradas principais. Algumas dessas vilas correspondem a antigas CAPELAS, - sítios em torno dos quais se aglutinavam os cinqüenta ou sessenta lotes de um TRAVESSÃO – centros vicinais, constituídos do templo católico ou capela com sua copa ou salão recreativo e comunal , da escola primária paroquial, pelo cemitério, cantina para recebimento da produção de vinhas e o fabrico do mosto, pela sede da cooperativa de produção agrícola, Por uma ou duas casas de comércio e dezenas de residências.

O processo de industrialização iniciou-se muito ceda na região, como resultado das exigências do consumo, como ocorreu com as serrarias, os moinhos de milho e trigo, as tecelagens e malharias, as conservas de carnes e o vinho. Com esses artigos as colônias já se representavam em exposições industriais no Estado antes do fim do século XIX e logo a seguir em São Paulo.

Outras indústrias, surgidas em caráter artesanal e expandidas ao nível empresarial, vieram acrescentar-se àquelas, destinando-se sobretudo à exportação – Produtos químicos derivados da uva, tecidos finos, peças leves e pesadas de metal, máquinas, cutelaria, motores, jóias e diversos outras.

Vale destacar, a tradição artesanal e fabril dos colonos, que muito haviam trabalhado nas fábricas e oficinas de seu país de origem. Existem registrados nos livros de concessionários dos lotes da vila de Caxias, em 1882, 37 diferentes profissões que incluíam alfaiates, carpinteiros, pedreiros, tanoeiros, ferreiros, sapateiros, marceneiros, amoladores, funileiros, seleiros, farmacêuticos, músicos, maquinistas, além de algumas oficinas dessas artes, já havia uma fábrica de sabão e uma olaria.

A escola é uma instituição central da sub-cultura regional, onde há os mais altos índices de alfabetização do Estado, sendo também esses colonos, intensamente católicos, muito elevados os índices de prática ou observância religiosas, bem como as vocações religiosas em ambos os sexos.

Muitos são o legado cultural dos italianos para o gaúcho, sua alegria, importância à família, educação formal, religião, jogos de integração e raciocínio, cultivo de hortaliças, o largo consumo de produtos embutidos, de hábitos alimentares à base de leite e massas, aves, além da religiosidade, da consservação dos alimentos em lugares mais frescos da casa, a adega, as capelinhas devocionais, entre outros, como o alto número de descendentes que hoje integrados aos costumes gauchescos, tem o tino para negócio e vocação política destacada. Com cargos no governo municipal,estadual e federal nas áreas: legislativa, executiva e judiciária.

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