terça-feira, 15 de abril de 2014

A história da Mulher no Rio Grande do Sul

As épocas são caracterizadas pelas idéias, as quais geram inúmeros acontecimentos. Não podemos sequer pensar, que, em cada período da história interfere uma única corrente ideológica, pois a evolução social não é linear.

A história da humanidade constata a sujeição da mulher em relação ao homem, o que não anula a existência de mulheres, que se destacaram naquelas épocas remotas, nos mais diferentes setores das atividades sociais, muito embora, pouquíssimo se tenha registrado. Essa é a grande razão da sociedade falar em machismo & feminismo.

O feminismo, como movimento organizado, surgiu de fato, na Revolução Francesa e a história da emancipação da mulher tomou vários rumos.

Atualmente, a mulher abandona, cada vez mais, o galope dos cavaleiros andantes de um ideal meio lírico de libertação, vendedor de ilusões, para posicionar-se lado a lado dos homens na estrada da grande aventura empregnada de desventuras.

A sociedade rio-grandense tem tradição machista, pois é originária de uma oligarquia militarizada, que demarcou fronteiras, através de lutas e de guerras.

A formação da mulher, desde a mais tenra idade, é direcionada para cuidar dos afazeres domésticos, rezar, enquanto aguarda o casamento com o noivo, que era escolhido pelo pai.

A liderança singular da mulher, como mola-mestra do lar, não pode ser anulada e tão pouco esquecida pela sociedade gaúcha, pois sua participação ativa sempre deteve a estrutura da família e da sociedade.

Não podemos esquecer, que a mulher sempre trabalhou nas estâncias, assegurando a economia do Rio Grande do Sul, enquanto seu pai, esposo e filho saiu para defender as fronteiras e os ideais rio-grandenses.

Dentre tantas grandes mulheres, que se destacaram no cenário Rio-grandense, em defesa das nossas fronteiras, destacamos a Marquesa de Alegrete: heroína anônima, nobre pampeana, que em 14 de janeiro de 1717, na Batalha de Catalan, ao lado do esposo Marques de Alegrete – Luiz Telles de Caminha e Menezes e do filho, ajudou a escrever, com sangue suor e lágrimas, a história das batalhas entre Portugal e Espanha, servindo como enfermeira, mãe e até soldado, na demarcação de fronteiras do nosso pago gaúcho.

A participação da mulher foi de fundamental importância no contexto da formação histórica, social e cultural do Rio Grande.

A Revolução Farroupilha colocou a mulher num encontro ingrato e arriscado com a vida, porém, por mais ameaçadoras, que se tenham apresentadas as circunstâncias, ela sempre soube manter-se firme: quanto mais a situação era adversa, mais a mulher soube se transformar na forja sagrada das convicções do herói farroupilha.

A mulher guerreira ficou conhecida por "vivandeira", a "china de soldado", foi a mulher, que acompanhou as tropas em seus deslocamentos e permaneceu nos campos de combate cuidando do soldado.

A mulher estancieira foi a mulher, que permaneceu na estância, administrando as lides campeiras e domésticas, tomando conta do lar, dos filhos, da estância e cuidando dos negócios do homem ausente, que rezava pelos vivos e chorava os mortos. Era, aos olhos de Deus e da sociedade patriarcal – a mãe, a esposa, a filha – permanecendo em casa, aguardando ansiosa o desfecho da guerra e o retorno do guerreiro.

A história também registra a mulher farroupilha do decênio heróico, que foi a mulher que, de uma forma ou de outra, figurou na história oficial do decênio heróico. Dentre elas, citamos Anita Garibaldi (Ana Maria de Jesus). Mulher intensamente feminina, ativa, forte de ânimo, de decisões rápidas, uma exímia cavaleira, que despertou em Giuseppe Garibaldi um fortíssimo sentimento, mesmo nos poucos contatos, que tiveram em Santa Catarina, quando da invasão de Laguna pelas tropas farroupilhas, além de Maria Josefa da Fontoura Palmiro, que promovia reuniões políticas em sua casa, em Porto Alegre, em apoio a Bento Gonçalves e aos Farrapos, também defendia a libertação dos escravos e tantas outras.

Muitas foram as heroínas desconhecidas, que lograram entrar na história, mas nem sequer seu nome é conhecido, como Caetana, esposa de Bento Gonçalves da Silva e Elautéria, mulher de Manuel Antunes da Porciúncula.

Foi neste dificílimo momento, que o valor da mulher farroupilha foi testado, fazendo com que seu coração vivenciasse as inúmeras novas circunstâncias, levando a sujeitar-se às necessidades, aos infortúnios, mas ela foi competente em sua função, incansável no desempenho do seu papel. Encantadora e generosa, companheira, não se deixou arrastar por convicções derrotistas, deixando na história um admirável perfil, abrindo perspectivas esplêndidas de esperança para seu companheiro, com admiráveis e imprescindíveis fatores decisivos e determinantes da inacreditável persistência dos farrapos.

A mulher farroupilha, com seu sentimento de compreensão e solidariedade, muito auxiliou o desenvolvimento da semente da República Rio-grandense, fazendo frutificar, em heroísmo, a alma da gente farroupilha. Ela soube avaliar e enfrentar o perigo, não para receá-lo e sim para combate-lo. Esta foi a mais sublime e valorosa lição feminina, raramente descrita com a merecida justiça e homenagem dos pósteros.

A mulher sempre promoveu a mais iluminada unidade de fé, auxiliou a compor as mais importantes páginas da história gaúcha, em meio a grande destruição, acreditou e fez acreditar, que sempre se salva algo dignificante da vida.

Inúmeras foram as heroínas anônimas, que, cuidando dos filhos, dos interesses familiares e da economia do Rio Grande, deram ânimo, apoio e acreditaram nos anseios farroupilhas.

Voltando o olhar sobre nosso heróico passado, constatamos que, mesmo durante o dramático e sangrento decênio farroupilha, o homem nunca esteve só: a providência divina colocou ao seu lado uma grande auxiliadora e fiel companheira, que lhe foi idônea.

Como vive atualmente a mulher gaúcha? Nós mulheres já paramos para pensar quantas profissões exercemos ao mesmo tempo? Será que nosso companheiro e esposo, filhos já imaginaram o que é ser, ao mesmo tempo, mulher companheira, mulher mãe, mulher profissional a buscar o seu espaço, mulher economista, mulher enfermeira a cuidar de seus filhos e familiares adoentados, mulher psicóloga a entender, a auxiliar, a dar ânimo ao esposo, ao filho, frente a situações do cotidiano, mulher doméstica nos afazeres do lar, mulher cozinheira a preparar o alimento para a família, mulher intelectual, mulher social, mulher telefonista, mulher política, tudo por conta dos inúmeros afazeres diários? Pois é isso mesmo, na volta das vinte e quatro horas do dia, uma única mulher exerce todas as profissões possíveis e imagináveis.

O tradicionalismo prima por preservar, divulgar e cultuar a tradição gaúcha, ou seja, o patrimônio sócio-cultural desta sociedade com tradição machista.

Mas a mulher gaúcha, com sua intuição feminina de simplicidade, sentimento materno e inteligência, soube conquistar seu espaço ao lado daquele que é considerado o "mais machista dentre os homens".

A mulher tradicionalista está ao lado do homem tradicionalista a orientar, a administrar e a planificar o tradicionalismo gaúcho. A mulher tem contribuído e muito para o engrandecimento e fortalecimento dos princípios, da filosofia do tradicionalismo, do cumprir e fazer cumprir seus Estatuto e Regulamento, suas normas, ao desempenhar funções como Patrão, Coordenadora Regional, Conselheira e detentora de outros cargos tão importantes e decisivos na estrutura organizacional e administrativa do tradicionalismo gaúcho, no propagar, divulgar e cultuar a tradição do Rio Grande.

É bem verdade, que somos uma minoria, mas por opção da própria mulher e não por imposição do homem tradicionalista.

Em 1947, surgia a Ronda Gaúcha e a Chama Crioula, cujos idealizadores foram homens. Em 1948, eles idealizaram a primeira entidade tradicionalista do Rio Grande do Sul, que foi o "35 CTG", em Porto Alegre. Embora tenha rompido com grande sucesso, a presença feminina foi mais acanhada. A mulher custou muito a integrar-se.

O grande e incansável companheiro Cyro Dutra Ferreira, em sua obra "35 CTG" – O Pioneiro do Movimento Tradicionalista, faz o seguinte registro: Somente em junho de 1949, aconteceu a primeira reunião com moças da sociedade, especialmente convidadas. Dela participaram: Maria Zulema Paixão Côrtes, Derce Paixão Côrtes, Suli Dutra Soares, Sarita Dutra Soares, Lory Meireles Kerpen, Íris Piva, Norma Dutra Ferreira, Nora Dutra Ferreira, Damásia Medeiros Steinmetz e Linda Brasil Degrazzia. Na reunião, foi apresentada e aprovada a proposta da criação da Invernada das Prendas, tendo sido nomeada como Posteira Lory Meireles Kerpen. Também foram convidadas Lia Eilert dos Santos e Cyra Eilert dos Santos, as quais não obtiveram permissão do "velho", que queria primeiro ver no que dava a coisa... De fato e de direito, as irmãs Marilia e Ludemilla Zarrans são consideradas as primeiras prendas do movimento, pois, em algumas oportunidades, foram as duas primeiras colaboradoras do "35". Também é registrada a presença da menina Verinha Simch Vieira, que por ser criança, tinha a permissão de descer para o porão, visto que seu tio Cincha participava das reuniões.

A transformação política, social, econômica e tecnológica chegou ao Rio Grande do Sul, obrigando a mulher gaúcha, a prenda tradicionalista sair às ruas, em busca de melhores condições de sobrevivência, porém conservando intacto o seu sentimento pela tradição gaúcha.

Como mulher partícipe da sociedade gaúcha, como mulher tradicionalista, como mulher profissional, mãe, dona de casa, tenho a convicção de que a mulher conquista tudo que desejar, sem colocar-se contra o homem, até porque seria um desperdício, mas colocar-se ao lado dele, conquistando, com galhardia e absoluto zelo, seu espaço, sua valorização pessoal e profissional, um lugar em que não precise falar em machismo & feminismo, baseado na autenticidade, na participação conjunta num mundo estruturado no amor e na paz social.

MARIA IZABEL T. DE MOURA

fonte: http://mtg.org.br

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