terça-feira, 6 de maio de 2014

MATEANDO COM MAMÃE

MATEANDO COM MAMÃE
Odilom Ramos
Foi hoje. Agora a pouco. 
Eu fiz um mate assim, 
tão bem feitinho, 
cevado com tal jeito e tal carinho, 
que me lembrei assim, de relancina
o primeiro mate que tomei. 

Foi minha mãe que fez. 
E era tão doce, doce como ela era e ainda é. 
Eu era piá, um naquinho de gente
 e pra ganhar um mate eu esperava
 até que ele não fosse mais tão forte e nem tão quente.
 No beiral da porta da cozinha, 
que era de chão batido, 
varridinha com vassoura de guanxuma, 
eu me sentava e pedia manhoso:
- Mãe, me dá um mate? 
E esperava, 
até que já dava 
pra dar um mate para o seu guri. 

Quantas lições de vida eu aprendi 
no mate doce que minha mãe fez. 
Aprendi obediência. 
Aprendi a ter paciência para esperar a minha vez. 
- Segura com as duas mãos! 
Não derrama! Não te queima! 
Não vá me mexer na bomba! 
Eram ordens... Mas tão brandas, 
dadas com tanta ternura. 
Da boca da minha mãe 
eu nunca ouvi um nome feio, 
nunca uma palavra dura. 
Que puxa! Quanta saudade! 
Minha infância, mocidade, 
e aquele mate inocente, 
que sem ser forte, nem quente 
era tudo o que eu queria.

Como eu ficava radiante
e me sentia importante 
com aquela cuia de mate 
que a minha mãe me estendia. 
E foram mates de leite, 
às vezes mates de mel 
com açúcar, com canela, 
que a minha mãe fazia 
diferente a cada dia. 

Minha mãe agora está velhinha 
e espera horas, dias, meses sentadinha 
ou suspirando debruçada na janela. 
Que esse seu filho, gaudério, desgarrado, 
um dia desses sente do seu lado 
e tire um tempo pra matear com ela. 
Eu vou sim, mãezinha. Te prometo
Também estou cansado de matear sozinho. 
E quando eu bolear a perna no teu rancho
deixe que eu ceve um mate para nós. 
Um mate doce, que eu vou adoçar com meu carinho.
Faço do autor as minhas palavras, 
hoje minha mãe não esta mais conosco,
 mas com toda a certeza está mateando 
com o nosso patrão velho La das alturas, 
me aguardando para que um dia 
possamos tomar um mate juntito.

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