segunda-feira, 31 de março de 2014

Escolha do Artesanato

Prendinhas e Peões, dentro dos concursos são também avaliados os dotes manuais dos participantes! Se você sabe fazer algum artesanato, ótimo, já prepare algumas peças, uma pesquisa básica sobre este trabalho manual e pronto, não precisa fazer tuuuudo, mas o suficiente para provar o quanto vocês são prendados ;-) !!!

Mas, caso não saiba nenhum, é hora de aprender!!! Estarei organizando algumas oficinas no CTG, em breve estarei postando as datas!

Alguns artesanatos são mais tradicionais, como o Crochê, Tricô, bordados, bróia, macramê, fuxico ( aquelas coisas que aprendemos com as avós). Mas, procure escolher o que você mais gostar! Ultimamente tenho visto muitos trabalhos de patchwork, biscuit, pintura, também são ótimos!

Mãos a Obra!!!

Idade de cada Categoria e Informações importantes!!!

Regulamento MTG-PR

Quanto a Idade para Participar: 

Piazito e Boneca: 06 anos completos até o ano em que completar 08 anos;
Mirim: 08 anos completos até o ano em que completar 12 anos;
Juvenil: 12 anos completos até o ano em que completar 17 anos;
Adulto: 17 anos completos até o ano em que completar 30 anos.
Veterano: Igual ou Superior a 30 anos.


CAPÍTULO III
DOS REQUISITOS PARA OS CANDIDATOS

ARTIGO 7º - Poderão participar do concurso, somente os candidatos que satisfaçam os seguintes requisitos:
          I.    Representar uma entidade filiada e em dia com suas obrigações junto ao MTG-PR.
        II.    Ser solteiro (a) e sem filhos, observando-se ainda, o contido no artigo 226, parágrafo 3º da Constituição Federal de 1988, que se refere a "União estável entre o homem e a mulher como entidade familiar", exceto para a categoria veterana e xiru que poderá ser solteiro, casado, viúvo ou legalmente separado.
       III.    Haver firmado termo de compromisso de bem exercer o cargo e as atividades sociais, culturais e artísticas, de representação e outras a ele inerentes, não apresentando impedimento legal, profissional ou religioso que o impeçam;
       IV.    Ter a idade prevista no artigo 5º;
        V.    Estar autorizado pelos pais ou responsáveis legais, quando menor de idade;
       VI.    Ter a escolaridade mínima prevista no artigo 6°.
     VII.    Se comprometer em usar o traje tradicionalista em todas as atividades e eventos tradicionalistas, bem como sua faixa e botom respectivos.

Tropeiro de Minha Infancia

TROPEIRO DE MINHA INFANCIA (tema)
AUTORA: Jurema Chaves
Guardo na moldura dos meus olhos
A imagem de um tropeiro
Velho peão carreteiro
Que tantos rastros deixou...
O meu avô foi um tropeiro
Que muito me ensinou.
Das longas prosas à tardinha
Quando a noite avizinhava
Volteando um fogo de chão,
Eu dormia de mansinho
No colo desse velhinho
Que sua história contava...
Exemplo de vida e lida
Esse velhito amoroso
Que me contava seus causos
Das noites fitando o céu
Guardando tropilha solta
Por debaixo do chapéu!
Um cochilo uma lembrança,
Muita saudade dos seus
Recolhida nas distâncias
Guardadas na mão de Deus!
Muitas vezes esse tropeiro
Com o olhar serenado,
Lembrando o tempo passado
Das mochilas, dos cargueiros...
Do arroz de carreteiro
Do charque gordo picado,
Um chimarrão junto ao fogo
No velho poncho enrolado...
E eu o escutava em voz alta
Meu Deus, como sinto falta
Dos causos que ele contava!
Dizia-me das venturas
Dos tropeços e carreteadas...
Das noites lerdas de sono
Dos lumes dos arrebóis...
Troperiando chuvas e sóis
Pras os horizontes sem dono
cada vez mais distante
Rastreando ao trote dos dias
Buscando o sonho longevo
Muito além das sesmarias!
A vida, dizia-me ele -
Tem belezas infinitas
Mas também horas aflitas
Guarde contigo os conselhos
Desse velho que estradeou
Por esse pampa gaudério,
Que cresceu sobre o lombilho
De um potro corcoveador,
Desde os tempos de criança
Sem nunca perder o entono,
Fiz dos arreios meu trono
Pra te deixar essa herança!
- Desbravei tantos caminhos
Curtindo o vento pampiano
Sem refugar tempo feio
Troperiando a despacito...
No imenso rodar do tempo
Busquei a rosa-dos-ventos
Entre o sol e o luar,
Vi o progresso chegando
Vi meus cabelos branqueando
Vi prantos no meu olhar...
Vi as tropeadas findando
E as velhas carretas tortas
Em tantas idas e voltas
A um museu recolhidas
Como partes repartidas
Que não mais posso buscar...
Às vezes, a ensimesmar
Vejo a tropa enfileirada
Nas auroras-madrugada
Com meu pingo a me chamar...
Ainda ouço os soluços
O gemido das cambotas
Velhos balaios de tropas
Cangalhas sem serventia!
Pois o progresso levou
Aquela estampa bravia.
E o tempo se encarregou
De alongar os horizontes
E encurtar os meus passos...
De desbotar-me as retinas
Tirar-me a força dos braços.
É nesta moldura que vejo
Meu avô mirando os longes
A cuia aquecendo a mão.
As botas gastas de chão
Um par de esporas caladas,
No galpão dependuradas
Por desuso do garrão...
No soluço das goteiras
E eu me vejo um piazito
Ouço a voz desse velhito
A quem devo o que hoje sou.
E por onde que ficouO velho tropeiro de outrora?
As tropas foram-se embora
O progresso as deserdou.

Tópicos Para Estudo

Mais uma postagem do nosso blog!!!

O que precisamos estudar para a Prova Escrita?


Cada faixa etária terá uma prova diferente.


Prenda Boneca e Piazito:

* Tradição, Tradicionalismo e Folclore:
   O que é CTG; Primeiro CTG fundado;
   Lenda: Negrinho do Pastoreio;
   Chimarrão - noções básicas;
* História e Geografia RS e PR;
- Dia do Gaúcho;
- Símbolos do PR e RS.

Categoria Mirim:

* Tradição, Tradicionalismo e Folclore:
- Conceito - Tradição.
- Principais Lendas do RS e PR;
- Chimarrão noções básicas;
- Indumentaria - Trajes históricos - Nomes e época de utilização;
- Danças Tradicionais; Principais instrumentos;
- 1º CTG Fundado - Nome e Lema;
- Pelagens de Cavalos, Peças da encilha.
* História e Geografia RS e PR
- Capitais;
- Hidrografia - Principais rios;
- Vegetação e clima;
- Relevo Paranaense;
- Ciclos Economicos do PR - Noções Básicas;
- Tropeirismo - noções básicas e cidades paranaenses fundadas;
- Reduções Jesuitica - Noções básicas;
- Revolução Farroupilha - Inicio e principais Lideres;
- Pontos turisticos;
- Nomes Do Rio Grande do Sul.
- Símbolos RS e PR.

Categoria Juvenil/ Veterano:

* Tradição Tradicionalismo, Nativismo e Folclore - Conceituação;
- 35 CTG - Fundação, Lema, 1ª Ronda Crioula;
- Principais Lendas RS e PR;
- Chimarrão - origem, lendas e avios;
-  Danças Tradicionais - Origem;
- Indumentária - Trajes Fundamentais;
- CTG e MTG - significado e objetivos;
- Noções básicas da Invernada Campeira - Pelagem de cavalos, peças da encilha, provas campeiras.
* História e Geografia PR e RS:
- Primeiros Habitantes;
- Introdução do Gado no RS;
- Tropeirismo - Noções Basicas, cidades fundadas;
- Ciclos economicos do PR - noções básicas;
- Emancipação Política do PR - Data;
- Revolução Farroupilha;
- Reduções Jesuíticas - Noções básicas - Sete Povos das Missões;
- Guerra Guaranitica - Inicio, causas, término;
- Primeira Cidade do Paraná - data de fundação;
- Símbolos PR e RS;
- Vegetação, Clima, Hidrografia, Relevo PR e RS;
- Pontos Turisticos;
* Atualidades - 2014

* REDAÇÃO

Categoria Adulta

Tradição, Tradicionalismo e Folclore - CONCEITUAÇÃO
- 35 CTG - Fundação, Lema, Fundadores, 1ª Ronda Crioula;
- Carta de Princípios MTG-PR - Noções Básicas;
- Principais Eventos do MTG-PR;
- Danças Tradicionais - Origem;
- Indumentária - Trajes Históricos;
- Chimarrão - Origem, avios, lendas;
- Noções básicas da Invernada Campeira  Pelagem de cavalos, encilha, provas campeiras;
- Jogos, Lendas, brinquedos e brincadeiras Tradicionais;
* História e Geografia RS e PR
- Simbolos;
- Pontos Turisticos;
- Hidrografia, relevo, Clima e vegetação;
- Atividades economicas;
- Tropeirismo;
- Revolução Farroupilha;
- Guerra Guaranítica;
- Contestado;
- Ciclos economicos do PR;
- Introdução do Gado no RS;
- Reduções Jesuiticas e Sete Povos das Missões;
- Principais Colonizadores PR e RS e contribuições culturais.
* Atualidades

*REDAÇÃO

Pessoal, qualquer dúvida, por favor, me perguntem, estou aqui para ajudar!!!!!

Primeira Dica: Organizando a Pasta de Vivência!

Olá pessoal!

Antes de estudar para a prova, aprender as danças, a cozinhar, fazer um artesanato, é necessário que tenhamos uma história dentro do CTG!
Devemos registrar tudo o que fizemos em prol do CTG e do Tradicionalismo. Fazemos isto em uma Pasta de Vivência, que vem a ser uma pasta com fotos, relatórios, certificados, que comprovam o que você fez de bom!


Então comece a trabalhar!


Participe de eventos, oficinas, rodeios, aulas, ajude na entidade, elabore e concretize projetos!


Seja um Tradicionalista, não apenas um dançarino, um declamador ou laçador, seja exemplo, ensine, repasse, a Tradição é isso afinal, a cultura e história repassada para frente, de pais para filhos, ou dos mais velhos para os mais novos, de amigos para amigos!

Este é um exemplo de como deve ser uma vivência Tradicionalista:


I-                    APRESENTAÇAO

II-                  BREVE RELATÓRIO DA VIVENCIA

III-                EVENTOS DA ENTIDADE DE ORIGEM – COM PARTICIPAÇAO DA ENTIDADE - CTG
    SOCIAIS
    CULTURAIS
    FILANTRÓPICOS


IV-               EVENTOS DA RT
SOCIAIS
CULTURAIS
FILANTRÓPICOS

V-                 EVENTOS  DO MTG
SOCIAIS
CULTURAIS
FILANTRÓPICOS

VI-               EVENTOS DA CBTG


 A PASTA DEVE SER ORGANIZADA EM ORDEM CRONOLÓGICA DOS EVENTOS, DENTRO DE CADA ENTIDADE (CTG, RT, MTG, CBTG)
Colocar somente um comprovante de participação para cada evento foto, declaração, certificado. Se tiver o certificado não colocar declaração e convites.

PASTA DE PROJETOS - copia dos projetos
CTG
RT
MTG         
Comprovantes de execução

Qualquer dúvida estou a disposição!!!

domingo, 30 de março de 2014

Data do Concurso Definida

Boa Noite pessoal!

Hoje no CTG, depois de um belíssimo evento, e da participação dos integrantes da invernada artística ( muito obrigado!!!), confirmei a data do Concurso:

26/07/2014

Vai ser um sábado, com inicio as 9hrs da manhã, no galpão do CTG.

Quem tiver interesse de participar, basta solicitar uma ficha de inscrição pra mim, que entrego em mãos, ou envio por e-mail.

Tem muito tempo pra se preparar, estudar e aprender!!!

Estou a disposição para quem tiver interesse, caso necessite de material para estudo, dicas e etc.!


O VELHO

VELHO
Bianca Bergmann
Amargurando as partidas,
Desafiando as estradas...
Se vai pela vida estranha
Sem limites, nem lugar.

Talvez perdido em seu tempo...
Tempo de barro nas botas,
Tempo de filho no colo,
Tempo de estrelas no olhar.

Já não se encontra em seu mundo...
Nenhum lugar é ideal!
Hoje, no entanto lhe vejo,
Ali mendigando uns cobres
Na escada da Catedral.

Fora estancieiro uma noite...
Por outra se diz cantor;
Carreteiro ou domador
Nos seus delírios pampeanos.

Pra cada um tem um nome...
Pra cada um, uma história...
E percorrendo a memória
Diz ter lembranças de tudo.

Só nos fala de belezas!

Fala da cor das auroras,
Dos vaga-lumes do campo...
Da dança das aroeiras
Parceireando um cinamomo,
Num tango desencontrado
Por tardes de ventania.

E fala das pitangueiras,
De laranjeiras floridas...
Fala de sonhos... de vida...
Da sua infância distante.
Depois então ele cala,
Com um semblante tão triste!

Percebo que tudo isso
Se some perante o hoje.
Mendigo... velho... sem cobres;
Sem auroras coloridas...
Sem laranjeiras floridas,
Sem vaga-lumes nos campos.

Só lhe sobraram os ventos
Cantando nas madrugadas
Cantigas desesperadas,
Sem tangos nem cinamomos.

Só lhe sobraram tristezas
Pairando no coração;
E a dança das aroeiras
Envergando a estrutura
Do rancho de papelão.

Não tem mais barro nas botas...
Já nem tem botas de fato!
Não tem seu filho no colo...
Nem sabe se ainda tem filho!
E as estrelas dos olhos,
Em céus nublados não brilham!

Nunca entendi o seu jeito!
Por que o velho mentia?
Não tinha nada na vida...
Não tinha nada a perder!

Por que não dizia o nome?
Por que não falava a sério?
Por que fazia mistério
Quando contava de si?

Confesso nunca entendi!

Talvez carregue um segredo?!
Que não revela por medo,
Ou por saber não ser bom.

Ou talvez sequer se lembre
Quem ele é de verdade!
Talvez não sinta saudade,
Então inventa as histórias
Por ter vergonha da sua!

Talvez escolheu a rua,
Só porque gosta do céu.
Pra ter telhado de estrelas...
Ter seus barcos de papel
Navegando as corredeiras,
Quando a chuva dos seus olhos
Vem, sem pedir permissão.

Ou pra ter um cusco manso
Que nem por fome se atiça.
E acordar as cinco e meia
Quando a voz no campanário
Se projeta no cenário,
Chamando o povo pra missa.

E de talvez em talvez
Eu desisti de entender!

Na Catedral fez seu lar,
E a quem quiser escutar,
Tem sempre palavra amiga...
Sua verdade inventada
Ou uma mentira sofrida.

Amargurando as partidas,
Desafiando as estradas...
Tentando enganar a vida
Nesses delírios só seus;
Se vai o velho, no más,
Contando estórias de paz
Em frente à casa de Deus!


PRENDINHA

PRENDINHA
Apparício Silva Rillo

Me orgulho deste meu pago
Me orgulho de ser prendinha
Em minhas veias caminha
O nativismo do Rincão
Quero aprender a lição
Vindo de meus ancestrais
Por isso pedi aos meus pais
Que me ensinem a tradição.

O meu pai é um bom gaúcho
Começou a me ensinar
Deste o jeito de andar até o
Meu comportamento
Me faz acompanhamento
Quando danço na invernada
Quer me ver moça prendada
Quando chegar o momento.

Mamãe me ensina a costurar
cuidar da nossa morada
A cuia deixa lavada
E a bomba de chimarrão
Tira a poeira do chão
Bem contente da vida
Ainda não faço comida
Não alcanço no fogão.

O meu sonho é ser educada
Por isso vou à escola
Os cadernos na sacola
Vou com calma e sem anseio
Colégio não é passeio
Eu não sou muito sapeca
Mas eu brinco de boneca
Só na hora do recreio.

Com as prendas que são grandes
Com elas vou aprendendo
E tudo que estou vendo
Vou botando tenência
Observo com paciência
Toda nossa gauchada
fico muito entusiasmada
Em ser prendinha da querência.

POEMA CIRCULAR

POEMA CIRCULAR
Apparício Silva Rillo

Não,
não me procurem mais
no meu velho endereço lá no campo.
Eu estou me mudando,
eu estou de mudança
estou mudado.

Compreendam:
no meu velho endereço lá no campo
só me havia ficado o coração
- já menos moço para os frios de agosto,
- para os ventos parados do verão.
O resto:
braços, pernas,
mãos, tronco e cabeça -
há muito tempo pagava fretes
num caminhão de carga que os trazia
pela fita do asfalto,
de um a um.

Claro,
vim aos pedaços,
como resistindo.
E quanto resisti!

Partido,
repartido,
a metade de lá chamava a outra
que tinha se mudado para aqui.

Eu ia.
e no meu velho endereço lá no campo
estava a bombacha vazia
(no espaldar da cadeira
e o como é triste a bombacha vazia de seu dono!)
E o chapéu sem cabeça, nos cabides,
um lenço colorado sem pescoço,
as botas paralíticas
junto ao penico de louças, sob a cama,
- o meu jeito de andar perdido delas.

Não,
não me procurem mais
no meu velho endereço lá no campo.
Eu estou me mudando,
eu estou de mudança,
estou mudado.

Trouxe nas malas anos de recuerdos:
as esporas do avô, um mango retovado,
uma franja de pala, um barbicacho,
um estribo sem loro, uma cambona,
uma panela com terra,
um boizinho de argila, que não berra
e um cavalo de ventos para andar.

Tudo isso nas malas!
Elas que são o avesso da gente,
porque são íntimas de nós,
e nos carregam.

Não,
não mandem mais
a meu velho endereço lá no campo:
livros de versos, discos e romances,
revistas e jornais.
Nem aviso de amigos que morreram,
nem notícias de netos que chegaram
como o menino Jesus, pelos Natais.

Tudo isso:
- vinho de alma, pão para a matéria -
tem um novo endereço de remessa:
uma casa de brisas e tijolos
numa cidade que eu amei depressa
pelas raízes campeiras, que ainda encontro
nas ruas de seus bairros e travessas.

Ah, quanto cantei
- de alma limpa e boa boca,
em salmos e protestos e orações -
o meu terrunho onde deixei plantado
o que tive de melhor no coração!

Um dia, os que virão
hão de saber que estanciei por lá,
nessa casa amparada por retratos
que vigilam na sombra como guardas
de uma herança que eu não sei quem herdará!

Na casa,
fiéis como esses gatos que não mudam
embora se mude o dono e vá-se embora,
estarão os meus livros e a vitrola
 para falarem por mim - pelas cantigas...

E assim me hão de encontrar os que saudarem
nos portais do terrunho, ó Ó de casa!
Que no meu tempo escancarava portas
e abria corações para os andantes.

Não,
não me procurem mais
no meu velho endereço lá no campo.
Eu estou mudado,
eu estou de mudança,
já mudei!

DE COMO FAZER UMA BRUXINHA DE PANO ( E ALGUNS CONSIDERANDOS)

DE COMO FAZER UMA BRUXINHA DE PANO ( E ALGUNS CONSIDERANDOS)
 APPARICIO SILVA RILLO

Claro, são necessárias
- Embora não fundamentais -
As coisas que chamamos materiais:
- retalhos, sobras de lã,
Paina ou palha picada para encher o corpo,
Um par de agulhas,
Linha branca e preta.
De três cores, pelo menos, o retrós:
Para os olhos, as sobrancelhas e a boca.
Ah, e uma tesoura !
De preferência uma tesoura antiga
Dessas de uma parda pátina na lâmina.
Uma tesoura que haja cortado umbigos de criança
Entre outros quefazeres das tesouras antigas.
Eis aí o necessário,
O material estritamente necessário
Para fazer-se – como se deve fazer –
Uma bruxinha de pano.
Lembrem-se
Que eu falei antes no fundamental.
Sem a ciência,
Sem a riqueza do fundamental
Ninguém faz uma bruxinha de pano que se preze.
É preciso coração para fazer uma bruxinha de pano.
É preciso que haja um século de avós,
É preciso que haja um século de mães,
É preciso que haja um século
De velhas empregadas resmungonas,
É preciso que haja um século
De sentimentos de maternidade
Para fazer-se,
Como se deve fazer,
Uma bruxinha de pano.
É preciso mais:
Que haja uma herança intemporal de rugas e trabalhos
Nas mãos que fazem uma bruxinha de pano.
Que essas mãos venham de outras mãos
Hábeis para fazer o pão,
Mansas para a ternura e para a reza.
É preciso que frente aos olhos
De quem faz uma bruxinha de pano
Haja uns óculos de lentes redondas em seus aros de ouro
Por onde se possa ver para dentro
E não apenas para fora.
É preciso que o corpo de quem faz uma bruxinha de pano
Resguarde o íntimo calor das reuniões de família
Ao redor da grande mesa de jantar
- antigamente.
Claro,
São necessários
Mas não fundamentais os materiais.
Ela precisa de alma, a bruxinha,
E alma é tudo o que a pouco alinhavei.
Alma é memória,
Uma inscrição na pedra,
Uns olhos grandes, uns bigodes no retrato
E o tempo nas feridas da moldura.
Não, não vos arrisqueis a fazer uma bruxinha de pano
Se não tiverdes alma para fazer uma bruxinha de pano.
Melhor fareis se comprardes uma boneca de material
Sintético,
Dessas que se fazem aos milhares
Nas fábricas multinacionais de brinquedos de plástico.
Dessas bonecas que choram,
Que riem, que andam e que falam,
Tão aparentemente iguais a nós, humanos,
Com traços de criança copiados tão perfeitamente
Que nem parecem bonecas.
Parecem, na verdade,
O que talvez sejamos um dia em nossos netos:
- criaturas feitas em série,
filhas de provetas,
programadas
por um computador que terá outro nome
que não o nome de Deus.
Ou quem sabe se até nome de Deus,
Se os homens forem tão loucos em si
Para chegarem tão longe de si,
Tão distante de Deus.

Boizito Colorado

BOIZITO COLORADO
Apparício Silva Rillo

Eta, boizito matreiro
esse boizito de pêlo colorado
que não tem parador!
Não há, que eu saiba,
nenhum aramado
que ele não tenha rompido alguma vez.

Anoitece pastando,
parece que muito aquerenciado.
Mas qual!
Quando a manhã despe o poncho da
noite
de sobre o lombo acocado das coxilhas,
o sol já não encontra no potreiro
esse boizito de pêlo colorado,
- danado de matreiro!

Quando muito,
no capim branquicento das geadas
um peão mais vivo encontra
meia dúzia de pegadas,

Mal comparando,
a Felicidade é um boizito colorado
- danado de matreiro! -
que em nosso coração se aquerencia.

Fica no mais um tempão...

Até que um dia,
foge o boizito deixando vazia
a invernada de nosso coração!

Boizito inquieto, essa Felicidade,
que só deixa o rastro vivo da saudade
na grama seca da recordação!

Piá

PIÁ
Antônio Augusto Fagundes

Senhores, eu sou um piá
Ou melhor um gauchito
Não tenho medo de grito
Nem de luz de boitatá
De bombacha ou chiripá
Com meu lenço no pescoço
Podem dizer que sou grosso
As meninas da cidade
Quando o bem é a outra verdade
Eu sou o Rio Grande moço.

Vou estudar e crescer
Amanhã vou ser doutor
Mas sempre vou Ter amor
Ao chão que me viu nascer
Gaúcho, eu hei de morrer
Pois nasci predestinado
E se não estou enganado
pago já renasceu
Porque tem miles como eu
Em cada canto do estado.

Eu não quero discoteque
Nem dançar o último tango
Só quero entrar num fandango
Aonde não dança moleque
E nem tem samba de breque
Por mais que eu de um jeitinho
Que me tire do caminho
Nem que me pinte de ouro
Pra mim dança de namoro
É o nosso velho pezinho.

Eu sou o Rio Grande novo
Mas amo o Rio Grande antigo
Que por ele eu até brigo
Para honrar o nosso povo
Sou pinto que sai do ovo
Já sabendo aonde vai
Peleia, firme e não cai
Por honrar a tradição
Eu sou a continuação
Do meu avô e do meu pai.