quinta-feira, 12 de março de 2020

QUESTÃO 08 - Vamos Estudar

QUESTÃO 08

A Revolução Federalista foi um conflito armado entre dois grupos políticos, os federalistas e os legalistas. Assinale a alternativa que contém os nomes pelos quais ficaram conhecidos estes grupos:
a) Farrapos e Chimangos;
b) Pica-paus e Maragatos;
c) Pica-paus e Farrapos;
d) Colorados e Maragatos;
e) Farrapos e Imperiais.

Vamos conhecer a resposta?


A RESPOSTA CORRETA É A "B"

Federalistas: Maragatos
Legalistas: Pica-paus


No final da década de 1880, a monarquia brasileira se encontrava em crise. Essa crise pode ser retratada por alguns aspectos:
  • Crise religiosa: interferência de D. Pedro II nos assuntos religioso, provocando um descontentamento na Igreja Católica;
  • Crise militar: críticas feitas por militares contra a Corte, diante das evidências de corrupção e o descontentamento dos oficias que não podiam se manifestar pela imprensa sem autorização do Ministro de Guerra;
  • Crise política: a classe média crescia, acumulava conhecimento e exigia maior participação nas questões políticas, pregando abertamente o fim da monarquia e a implantação de um novo regime de governo;
  • Crise Econômica: a monarquia perdeu o apoio dos grandes proprietários rurais, especialmente dos cafeicultores paulistas, que esperavam maior participação nas decisões econômicas e políticas num novo regime de governo;
  • Crise social: a monarquia já não contava com o apoio popular. A sociedade já não se encantava com a figura do monarca, mesmo porque, doente, D. Pedro II estava cada vez mais afastado das decisões e do convívio social;
  • Crise ideológica: desde o final da Guerra do Paraguai aumentava a cada dia a ideia de implantação do regime republicano de governo. A república era vista como uma necessidade de modernização por muitos setores. O regime monárquico era apresentado na imprensa como um entulho envelhecido e que atrapalhava o desenvolvimento do País. Reunidas as condições favoráveis, no dia 15 de novembro de 1889, o Marechal Deodoro da Fonseca, com o apoio dos republicanos, demitiu o Conselho de Ministros e seu presidente, assinando um manifesto proclamando a república e formando um governo provisório. Após 67 anos, a monarquia chegava ao fim no Brasil.
Diante da nova situação política, os estados brasileiros passaram por um período normal de disputa pelo domínio político. Esse período foi especialmente traumático para o Rio Grande do Sul: de um lado se encontravam os republicanos, liderados por Júlio Prates de Castilhos e de outro os federalistas, também denominados restauradores, liderados pelo senador Gaspar Silveira Martins, líder do Partido Liberal na década que antecedeu a Proclamação da República.
O Rio Grande do Sul, em 1890, tinha uma população de 897.455 habitantes, sendo 74% analfabetos. Contava com 61 municípios com predomínio da população rural, ¼ da população vivia na zona da Campanha, com alto índice de desemprego. Havia muitos negros ex-escravos, marginalizados, ao mesmo tempo em que florescia a região de imigração. Os meios de transportes eram precários. As estradas de ferro ainda não haviam atingido todo o território. A industrialização iniciava seus passos e substituía os artesãos. A jornada de trabalho era de 16 horas, com baixos salários. As moças casavam cedo, por volta de 16 anos de idade. Com a República, assumiu o governo estadual o PRR (Partido Republicano Riograndense), sendo indicado Presidente do Estado o Visconde de Pelotas e tendo como Secretário do Governo Júlio de Castilhos.
A Constituição Estadual, elaborada por Júlio de Castilhos, aprovada em 1891 tinha forte influência positivista. Instalou-se no Estado a ditadura científica positivista, onde o poder executivo elaborava as leis e os decretos, sendo a Assembleia uma espécie de conselho que se reunia dois meses por ano para apreciar as contas do governo. Os intendentes municipais (prefeitos) e os conselhos (câmara de vereadores) eram nomeados provisoriamente por Júlio de Castilhos.
Diante da crise que tomou conta da Capital, Rio de Janeiro, quando o Presidente Deodoro da Fonseca resolveu atacar o Congresso, em 3 de novembro de 1891, dissolvendo-o, malgrado não ter poderes constitucionais para isso e, confiado no Exército, proclamou estado de sítio, Júlio de Castilhos cedeu à pressão de alguns militares aliados à oposição ao governo e renunciou em 12 de novembro de 1891. Formou-se uma junta governativa que deu início ao “governicho”, período que se estendeu até junho de 1892.
A primeira junta governativa era integrada pelo Gen. Manoel Luiz Rocha Osório, João de Barros Cassal, Joaquim Francisco de Assis Brasil e Domingos Alves Barreto Leite. Diante da revolta da Armada, em 23 de novembro, que cercou e ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, o Presidente Deodoro, mesmo contando com o apoio da maioria da guarnição militar, preferiu renunciar ao poder e entregar o governo ao Vicepresidente Floriano Peixoto.
Em 17 de novembro, a Junta que governava o estado se demitiu, sendo nomeado Presidente o Gen. Barreto Leite. A crise política no estado se prolongou e Barreto leite entregou o governo a Barros Cassal em 3 de março de 1892, que o devolveu em 25 de maio. Barreto Leite, então, entregou o poder ao Visconde de Pelotas, em 8 de junho, que por sua vez, renunciou em favor do gen. João Nunes da Silva, no dia 17 de mesmo mês.
Finalmente, a Guarda Cívica se revoltou e reconduziu Júlio de Castilhos ao poder. Ao reassumir o governo, Júlio de Castilhos nomeou Vitorino Monteiro Vicepresidente estadual e renunciou em favor deste. A tarefa de Monteiro era preparar a Guarda Cívica para um possível luta armada. Os adversários políticos passaram a ser tratados como bandidos acirrando ainda mais os ânimos. Foram realizadas as eleições e Júlio de Castilhos se elegeu Presidente, sendo empossado em 25 de janeiro de 1893. Em 5 de fevereiro do mesmo ano eclodiu a Revolução.
Os revoltosos, do Partido Federalista, defendiam o unitarismo e o parlamentarismo, sendo apelidados de “restauradores” por pretender um regime semelhante ao do tempo do Império. O grande líder intelectual era Gaspar Silveira Martins.
Os Republicanos, liderados especialmente por Júlio de Castilhos, defendiam o regime republicano de governo, a autonomia dos estados (descentralização) e o predomínio do poder executivo sobre o legislativo.
A revolta, denominada Revolução Federalista, teve início quando o Gen. Silva Tavares reuniu o departamento de Cerro Largo, Uruguai, mais de 3.000 combatentes e invadiu o Rio Grande do Sul pela Carpintaria (hoje Bagé). No mesmo dia, o Gen. João Nunes da Silva Tavares, comandante d forças revolucionárias, lançou uma proclamação lembrando das atrocidades do governo estadual dizendo que só restava a luta armada.
Os federalistas tomaram Dom Pedrito, cercaram Santana do Livramento com 6.000 homens, mas somente 700 fuzis. Defendida por 800 homens, Santana do Livramento resistiu. Enquanto parte dos federalistas eram rechaçados na fronteira e se refugiavam no Uruguai, o Cel. Marcelino de Albuquerque, no comando de uma tropa revolucionária, tomou o Alegrete.
Na defesa do governo constituído, o senador e estancieiro José Gomes Pinheiro Machado organizou a Divisão do norte para dar combate aos revoltosos. Entre fevereiro e junho foram registrados vários combates na fronteira oeste, colimando com a desagregação dos federalistas que, na sua maioria, se homiziou no Uruguai.
Na segunda investida revolucionária, Gumercindo Saraiva, com 1.100 homens conseguiu furar o bloqueio governista e se dirigiu para a região para a região de São Sepé, onde iniciou um período de guerrilha. O senador e Vice-almirante Eduardo Wandelkolk se rebelou a fim de unir-se a Gaspar Silveira Martins, tomando o navio Frigorífico Júpiter no porto de Buenos Aires, entrou na barra de Rio Grande para se juntar a Gumercindo Saraiva, sem sucesso. O rebelde acabou preso da Ilha do Desterro pelo Cruzador República.
Em setembro de 1893 os federalistas obtiveram várias vitórias na fronteira oeste, mas ficaram enfraquecidos e com pouca munição, mesmo assim, sob o comando de Gumercindo Saraiva, seguiram em direção do Planalto: invadiram Cruz Alta (que estava deserta), chegaram a Passo Fundo, foram na direção de Mato Castelhano e Mato Português. No encalço dos federalistas estava a Divisão do Norte. Pressionados pela Divisão do Norte, os federalistas fugiram em direção a Santa Catarina cruzando o Rio Pelotas, no Passo da Cadeia com 3.000 homens, em 2 de novembro de 1893.
Depois de percorrer o Paraná por vários meses, retornaram ao Estado, entrando no dia 31 de maio de 1894. Em muitas cidades por onde passaram, os federalistas tomaram as intendências municipais. As lutas eram sempre seguidas de vinganças e degolas. Não se poupavam inimigos de parte a parte. Sob esse aspecto, foi esta a mais vergonhosa revolução travada em terras brasileiras.
As ações na fronteira prosseguiram durante o ano de 1893. Em março de 1894 o Cel. Ubaldino Machado, auxiliado pelo Cel. Antônio Ferreira Prestes Guimarães (vindo da Argentina, subindo o Rio Uruguai), tomou Palmeira e Cruz Alta acampando no Boi Preto onde foram surpreendidos pelo Cel. Firmino de Paula. Os federalistas foram derrotados e os 370 maragatos presos foram fuzilados ou degolados.
A Divisão do Norte permanecia na luta contra a coluna de Gumercindo Saraiva e no Carovi, no Planalto das Missões, o maragato foi ferido pelas tropas do Cel. Fabrício Pillar, comandante do 1º Regimento da Brigada Militar, vindo a falecer. Foi enterrado no dia 11 de agosto de 1894 no cemitério de Santo Antônio.
Em suas memórias, o Gen. Maragato Antônio Ferreiras Preste Guimarães escreveu: “A morte de Gumercindo a 10 de agosto em Carovi, enchendo de justa mágoa os corações patrióticos foi um eclipse fatal para a Revolução”.
Episódio importante, com consequências graves no campo bélico da revolução, ocorreu em 27 de junho de 1894: os revolucionários atacaram o campo dominado pelos republicanos a 12 quilômetros de Passo Fundo, na direção de Cruz Alta, na Fazenda de Antônio de Mello no “Pulador”. O combate teve duração de seis horas e resultou em importantes baixas de ambos os lados. Os legalistas resistiram ao ataque dos maragatos que, rechaçados, retrocederam para Passo Fundo.
No relato feito pelo Gen. Prestes Guimarães, percebe-se exagero na avaliação das perdas legalistas e a valorização dos revolucionários perdidos: “tiveram os revolucionários 88 mortos, contados insepultos no campo, alguns dias depois, e quase 200 feridos, incluso o valente Apparício, Mello, José Silveira Martins e tantos outros bravos. Foi maior a perda dos legalistas. Algumas centenas de mortos e cerca de mil feridos, senão mais, o que cuidadosamente trataram de ocultar para diminuir o efeito moral da verdade desta para eles, vitória de Pirro. Depois de “Pulador” e do “Carovi”, Aparício Saraiva assumiu o comando dos revoltosos e, depois de vários embates menores conseguiu atravessar o Rio Uruguai e entrar na Argentina. O alento para os federalistas ocorreu quando Almirante Saldanha da Gama se uniu a Aparício Saraiva em Montevidéu e invadiu novamente o Rio Grande, em 9 de outubro de 1894. Mas com poucos homens e escassa munição os maragatos não conseguiram se aprofundar no território, sendo mantidos na divisa com o Uruguai.
A Revolução agonizou até julho de 1895. Em 10 de julho de 1895, realizou-se uma conferência de paz em Pelotas e, finalmente, em 31 daquele mês o Gen. Galvão de Queiroz (Comandante Militar do RS – 6º Distrito Militar) e o Gen. Maragato João Nunes da Silva Tavares (Joca Tavares) assinaram a paz pondo termo a Revolução Federalista, a mais cruel e incompreensível revolta gaúcha.
Pelejaram, mataram e morreram sem uma causa que justificasse. Foi uma disputa pelo poder político. Noutro lugar, com outra história social e outra formação da identidade regional, esta revolução não poderia ter ocorrido. A Revolução federalista somente poderá ser analisada e, com esforço, compreendida, se considerarmos as suas circunstancias geográficas, os antecedentes bélicos e o espirito militarista do povo gaúcho.
Maragatos e Pica-Paus saíram da Revolução ainda mais inimigos do que nela entraram. O ódio somente foi amenizado no período de trinta anos em que ambos “lamberam suas feridas”, o que não impediu que, em 1923, se batessem novamente e definitivamente no campo de batalha.
Ao cabo da revolta, Júlio de Castilhos permanecia na presidência do estado e quando foi comunicado do fim da luta, respondeu que fazia votos para que a submissão dos rebeldes fosse definitiva. Souza Docca (1954) se recusou a tratar a Revolução Federalista tecendo o seguinte comentário: “Veio a revolução, que é um capítulo doloroso de nossos anais, que merece a nossa condenação e o fazemos silenciando seus acontecimentos”.
No tópico seguinte, ao se referir sobre a revolta de 1923 diz : “a luta feroz do homem contra o homem é uma luta de selvagens e por isso as lutas pelo poder são sempre de consequências funestas”. As afirmações do respeitado estudioso Gen. Souza Docca, dão a dimensão do que representou a Revolução Federalista, e mais tarde a revolução de 1923, para a sociedade gaúcha. O período que sucedeu ao ano de 1895 foi de paz e serviu para a consolidação das ideias republicanas e o enraizamento dos conceitos positivistas defendidos pro Júlio de Castilhos que tiveram continuidade com Antônio Augusto Borges de Medeiros, seu sucesso político.



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